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Rachel de Queiroz - 110 anos de nascimento da autora de O Quinze

“Escrever, para mim, nunca foi uma paixão, nunca foi uma vocação, foi sempre profissão, porque minha paixão mesmo é a vida” 

Trecho de entrevista concedida ao programa “Os Mágicos” exibido pela TVE-RJ em 1978 


Rachel de Queiroz em programa da TV Educação
Rachel de Queiroz em programa da TV Educação.  Ministério da Educação/TV Escola. Domínio Público.
Disponível em Wikimedia Commons


Há 110 anos nascia em Fortaleza (CE) a escritora Rachel de Queiroz, autora brasileira conhecida mundialmente por suas obras. Ainda muito pequena, presenciou a grande seca de 1915, que levou a família a se mudar para o Rio de Janeiro em 1917 e em seguida Belém do Pará, regressando a Fortaleza em 1919. 

Sua estreia na literatura ocorreu em 1930, pouco antes de completar 20 anos, com a publicação do romance O Quinze, que retrata as agruras da seca de 1915. O romance, de forte cunho social, teve grande repercussão e rendeu à autora o prêmio da Fundação Graça Aranha, no ano seguinte. 

Entre suas obras mais famosas, algumas adaptadas para o cinema ou televisão, estão também João Miguel (1923); Caminho das Pedras (1937); As três Marias (1939) e Memorial de Maria Moura (1992). 

Além de romancista, Rachel também traduziu importantes obras do inglês e do francês e foi cronista de jornais como Correio da Manhã; O Jornal; Diário da tarde; O Estado de São Paulo e Diário de Pernambuco, além de contribuir com crônicas semanais na revista O Cruzeiro de 1945 a 1975.

Em sua primeira crônica para aquela revista, apresentando-se aos leitores, a autora assim se descreve:


“Sou uma mulher rústica, muito apegada à terra, muito perto dos bichos, dos negros, dos caboclos, das coisas elementares do chão e do céu. (...) E tenho sempre casos para contar, casos de minha terra, desta ilha onde moro; mentiras, recordações, mexericos, que talvez divirtam seus tédios” (Crônica nº 1 - O Cruzeiro, 1945). 


Esse amor pela terra se revelaria em suas obras, mas também transparece em uma entrevista feita ao jornalista Araken Távora, no programa “Os Mágicos” exibido pela TVE-RJ em 1978 e resgatado pela TV Brasil em homenagem à escritora. Ao ser questionada sobre qual palavra da língua portuguesa ela considerava mais bonita, Rachel respondeu: 


“É difícil; eu nunca pensei nisso. Eu gosto das palavras. Eu acho que cada palavra é bonita no momento certo, mas creio que terra, mar, homem… qual mais? Sal, dia, sol são as palavras mais bonitas; as que descrevem as coisas fundamentais.”


Esse ponto de vista é reforçado por Edmílson Caminha, na obra Rachel de Queiroz, a Senhora de Não me Deixes:


“No correr de uma longa e fecunda existência, Rachel de Queiroz não quis ser mais do que a Velha Senhora que se dizia “melhor cozinheira do que escritora”, a mulher simples, a sertaneja autêntica, para quem um alpendre, uma rede e um açude era a expressão maior da felicidade humana”. (CAMINHA, 2010, p. 43)


Mulher simples, mas forte e de grande destaque. A escritora de alma sertaneja, que teve suas obras traduzidas para diversos idiomas, foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira na renomada Academia Brasileira de Letras, em  1977, e também a primeira mulher a receber o Prêmio Camões (1993), considerado o mais importante prêmio da Língua Portuguesa. Seu romance Memorial de Maria Moura (1992), que publicou aos 82 anos de idade, é considerado um dos maiores romances da literatura brasileira. 

Rachel de Queiroz faleceu em seu apartamento no Leblon, Rio de Janeiro, em 04 de novembro de 2003.


Para saber mais


Programas sobre a autora

Programa Recordar é TV - TV Brasil


O programa em homenagem aos 110 anos de nascimento da escritora exibiu trechos de duas entrevistas concedidas por Rachel de Queiroz: a primeira ao jornalista Araken Távora no programa “Os Mágicos”, da TVE-RJ em 1978, e a segunda a Hildegard Angel no programa “As Pessoas”, exibido pela TVE-RJ em 1989. Nessas entrevistas é possível conhecer mais de perto a escritora, suas origens, suas visões sobre a vida, carreira e a literatura. 


Programa Roda-Viva - TV Cultura, 1991


No programa de uma hora e meia de duração, a escritora fala sobre suas concepções políticas, episódios de sua vida, suas visões sobre a crítica literária e a Academia Brasileira de Letras. Entre os participantes da entrevista estão, entre outros, Jayme Martins, Caio Fernando Abreu, Fábio Lucas, Maria Alice Barroso e Miriam Goldfeder. 


Materiais para leitura e pesquisa


Rachel de Queiroz - A Senhora do Não Me Deixes, de Edmílson Caminha - Academia Brasileira de Letras, 2010


Publicado no centenário da escritora, o livro contém uma pequena biografia da escritora, assinada por Edmílson Caminha e uma seção com visões críticas e comentários sobre a autora feitos por escritores como Ariano Suassuna, Mário de Andrade, Ledo Ivo, entre outros. A publicação está disponível gratuitamente em pdf no site da Academia. 


Instituto Moreira Salles - Arquivo Rachel de Queiroz


Se você quer conhecer um pouco mais a fundo a vida e obra dessa importante escritora, o acervo do Instituto Moreira Salles (IMS) pode ser uma boa opção. Em 2006, a instituição recebeu o Arquivo Rachel de Queiroz, que é composto de documentos pessoais, cartas, fotografias, desenhos, agendas com informações sobre a vida cotidiana da autora, entre outros. 

No site do IMS é possível pesquisar os acervos disponíveis e visualizar alguns desses materiais; outros estão disponíveis apenas para consulta local, feita com agendamento. Além disso, no site você pode encontrar algumas de suas crônicas escritas no ano do golpe militar de 1964 e outros conteúdos selecionados em ocasião do centenário de nascimento da autora. 


Coleção Rachel de Queiroz - Biblioteca Central da Universidade de Fortaleza (Unifor)


Outra fonte importante de consulta é a Coleção Rachel de Queiroz, disponível na Biblioteca Central da Universidade de Fortaleza. O acervo foi cedido à Unifor pelo Instituto Moreira Salles por meio de um convênio e é composto de 2800 livros e cerca de 300 periódicos que compunham a biblioteca pessoal da escritora. A entrada na biblioteca é gratuita, mas a visita em grupos deve ser feita por meio de agendamento. 


Obras de Rachel de Queiroz disponíveis no SIBISC


As bibliotecas do Sistema Integrado de Bibliotecas de São Carlos possuem uma série de títulos da autora, que você pode encontrar acessando o catálogo do sistema. Abaixo, uma pequena lista de alguns títulos disponíveis:

  • O Quinze;

  • Memorial de Maria Moura; 

  • Cafute & Pena-de-Prata; 

  • As três marias; 

  • 100 crônicas escolhidas; 

  • A beata Maria do Egito; Caminho de Pedras; 

  • Lampião; 

  • O menino mágico


E você, já leu alguma obra de Rachel? Tem alguma sugestão? Não deixe de comentar aqui com a gente.


Por Natália Cristina Lorevice, estagiária do SIBISC

Referências


Sobre Rachel de Queiroz. Instituto Moreira Salles. 2020. Disponível em: <https://ims.com.br/2017/06/01/sobre-rachel-de-queiroz/ > Acesso em 16 nov. 2020.

Programa Recordar é TV reverencia a escrita de Rachel de Queiroz. TV Brasil. 2020. Disponível em: < https://tvbrasil.ebc.com.br/programa-recordar-e-tv-reverencia-escrita-de-rachel-de-queiroz#:~:text=Atra%C3%A7%C3%A3o%20resgata%20entrevistas%20dos%20anos,Educativa%20do%20Rio%20de%20Janeiro > Acesso em 16 nov. 2020.

Coleção Rachel de Queiroz. Fundação Edson Queiroz. Universidade de Fortaleza. 2020. Disponível em: <https://www.unifor.br/colecao-rachel-de-queiroz> Acesso em 16 nov. 2020.

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