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Cinderela

Do livro Childhood's Favorites and Fairy Stories,
ilustrado por Oliver Herford - Domínio público. 
Disponível em Wikimedia Commons.
"Cendrillon" (francês), "La Gatta Cenerentola" (italiano), "Aschenputtel" (alemão) ou simplesmente "Cinderela", como a conhecemos no Brasil. Existem tantos nomes e tantas versões para essa história que podemos nos perguntar: afinal, de onde ela veio? E qual é a versão original desse conto de fadas?

Antes de responder a essas perguntas, precisamos pensar em uma outra.


 

O que são os contos de fadas?


 

São histórias populares muito, muito antigas mesmo. Só para você ter uma ideia, a história da Cinderela apareceu na China antiga e no Egito antigo! Pois é, mas vamos falar disso depois.
Como eu dizia, esses contos surgiram há muito tempo, numa época em que ainda não existiam muitos registros escritos (como os livros que conhecemos hoje) e somente os que eram muito ricos aprendiam a ler e a escrever. Apesar disso, as pessoas gostavam de se reunir em família ou em outros lugares para inventar e contar histórias. Essas histórias eram contadas e recontadas de uma pessoa para outra e por isso sofriam algumas modificações ao longo do tempo dependendo da cultura e das intenções de quem contava as contava. Eram um passatempo, mas também uma forma de educar, de ensinar bons costumes e prevenir maus caminhos.

Por terem essa natureza de narrativa oral e terem surgido antes dos registros escritos se popularizarem, é praticamente impossível indicar quem as contou primeiro e, portanto, qual a versão original de um conto de fadas. O que podemos é indicar quais os primeiros registros escritos de uma história.


 

As primeiras versões escritas de Cinderela


Itália



Como falamos mais acima, a história da Cinderela já estava presente na China antiga e no Egito antigo, como mostra essa reportagem do National Geographic, mas as primeiras versões escritas apareceram no século XVII.

A primeira delas é do escritor italiano Giambattista Basile (1566-1632) e se chamava La Gatta Cenerentola. "Cenere" em italiano significa "cinzas" ou "borralho", daí a tradução "Gata borralheira" em português. La Gatta Cenerentola era uma das 50 histórias contidas no livro Il cunto de li cunti, publicado pela irmã de Giambattista, Adriana, em 1634.


 França


Já na França, alguns anos mais tarde, Charles Perrault (1628-1703) recolheu uma série de contos de fadas populares e em 1697 publicou-os em um livro chamado Contos do tempo antigo com moralidades também conhecido como Contos da Mamãe Gansa. Entre os contos temos as histórias de Cinderela; A Bela Adormecida no bosque; Chapeuzinho Vermelho; O Gato de Botas; O Pequeno Polegar e muitos outros. A maior parte desses contos era escrita em prosa e terminava com versos moralizantes, ou seja uma reflexão sobre os bons costumes. Graças a esse livro, Charles Perrault ficou conhecido até hoje como "o pai dos contos de fadas".


Alemanha


No século XVIII, foi a vez dos irmãos Grimm publicarem sua versão de contos populares, os Contos Infantis e Domésticos, mais tarde chamados de Contos de Grimm. Jacob Grimm (1785 – 1863) e Wilhelm Grimm (1786 – 1859) eram filólogos e estudiosos do folclore e da mitologia germânica e escreveram essa obra com a intenção de preservar a tradição oral e a cultura alemãs, ou seja, para servir como material de estudo dessa cultura. Com o tempo esses contos foram sendo adaptados, episódios com muita violência foram retirados, para se adequar melhor ao público infantil. Entre os contos desse livro está também A Gata Borralheira.


Primeiras adaptações brasileiras


Por aqui,  Alberto Figueiredo Pimentel é o autor do primeiro livro infantil publicado no Brasil com adaptações de contos populares: Contos da Carochinha (comentamos sobre ele aqui no blog, neste artigo). Nele Pimentel  reescreve os contos a sua maneira, procurando aproximá-los do contexto nacional, e o conto de Cinderela está presente como A gata borralheira.

Com esse mesmo nome ele aparece, já no início do século XX, na adaptação de Monteiro Lobato, Contos de Perrault (1934) pela Companhia Editora Nacional.

Depois delas, muitas outras adaptações surgiram e continuam a surgir.


Contar e recontar, criar e recriar - a magia dos clássicos


Como dissemos antes, por serem contadas e recontadas, essas histórias apresentam diferenças dependendo da versão ou da cultura em que aparecem. Na versão do Egito, por exemplo, o sapatinho de Cinderela é de couro vermelho; na dos irmãos Grimm é de ouro, enquanto na de Perrault temos os famosos sapatinhos de cristal.

Porém não é só nos livros que essas releituras aparecem. Também no cinema temos versões desse conto em filmes como Para sempre Cinderela. E são justamente as leituras e releituras que preservam essas histórias e fazem delas os clássicos que até hoje apreciamos.


Dica: se você é curioso como eu, te convido a acessar a Biblioteca Digital Mundial, onde você encontra uma edição do século XIX do livro de Charles Perrault, cujo original está na Biblioteca Nacional da França. Ele está em francês, mas vale a pena apreciar as belas ilustrações que compõem o livro.

 

E, se quiser aprofundar a leitura, nas referências você encontra os estudos e reportagem utilizados para escrever este post.


Referências







 


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